O Alentejo tem as costas largas

Cabe lá quase tudo o que se possa imaginar. Uma terra a perder de vista, um cante eterno, a sabedoria das gentes, a calmaria do Verão, as geadas de Inverno, assim como todas as promessas que embalaram o território ao longo de décadas. Foram muitas, demais, de todos os lados, de todos os governos, como se tudo estivesse por cumprir e uma mão estendida relembrasse a todo o momento aquilo que nos deviam.

Foram pagando. Devagar, devagarinho, como se quisessem corresponder a um qualquer estereótipo que nunca nos vestiu. Os anos passaram, os sonhos também, houve pessoas que desistiram, outras partiram, e as que ficaram foram desacreditando. Prometeu-se uma terra próspera, uma barragem para a regar, prometeram-se estradas, fábricas, serviços, até pessoas. Nalguns casos até deram, investiram qualquer vintém. Noutros limitaram-se a fingir, ludibriaram, fizeram de conta que tudo estava no caminho certo. Tínhamos sol, tínhamos planícies, podíamos até ter recreios encantados para turista ver e passear. Só não tínhamos a terra - desenvolvida, farta, robusta de oportunidades. A província tem sempre os seus handicaps. Nem que seja o estar longe do centro do mundo.

Talvez por isso nos tenham dado um aeroporto. Investimento robusto que teria os seus encantos mas que rapidamente serviu de chacota. Não havia ninguém para o usar, não havia aeronaves, passageiros ou qualquer tráfego que justificasse tal obra. Alguém se enganou. Por isso o fecharam, guardado a sete chaves. Usado apenas em dias de festa. Ou para quebrar em caso de emergência, como foi hoje o caso. O aeroporto de Beja serviu de base para uma aterragem complicada. Ligaram-se radares, veio a Protecção Civil, festejaram os jornalistas. Felizmente tudo acabou em bem. Podem voltar a fechar as portas. O elefante branco vai voltar a adormecer.

No Alentejo cabe todo o tempo do mundo. Uma enorme espera.

Felizmente tem as costas largas.

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